Os godos foram um povo que floresceu na Europa desde a antiguidade até a Idade Média. Às vezes, chamados de “bárbaros”, eles são famosos por saquear a cidade de Roma em 410 DC.
Ironicamente, porém, eles costumam receber o crédito por ajudar a preservar a cultura romana. Após o saque de Roma, um grupo de godos mudou-se para a Gália (na França moderna) e para a Península Ibérica e formou o Reino Visigótico. Este reino viria a incorporar o cristianismo católico, as tradições artísticas romanas e outros aspectos da cultura romana. O último reino gótico. caiu para os mouros em 711 DC.
Hoje, o significado da palavra “gótico” evoluiu além de qualquer relação direta com os antigos godos. No final da Idade Média, surgiu um estilo de arquitetura caracterizado por grandes e imponentes catedrais e castelos. O termo “gótico” foi aplicado ao estilo como uma crítica, sendo a palavra, mesmo naquela época, um sinônimo de “bárbaro”.
Durante os séculos 18 e 19, a gênero de literatura romântica e sombria chamado “ficção gótica” floresceu. Caracterizado por romances como Bram O “Drácula” de Stoker, o “Frankenstein” de “Mary Shelley” e as obras de Edgar Allen Poe, o gênero recebeu o nome dos locais góticos em que as histórias ocorreram – por exemplo, o castelo escuro e agourento de Drácula.
Nos tempos modernos, “gótico” tem sido usado para uma subcultura com seu próprio estilo de música, estética e moda. As imagens góticas sombrias, muitas vezes sombrias, foram influenciadas pela ficção gótica, particularmente filmes de terror.
De uma ilha no norte?
Onde exatamente os antigos godos veio é um mistério. No século VI d.C., o escritor Jordanes (que provavelmente era gótico) escreveu uma história dos godos. Ele afirmou que os godos vieram de uma ilha fria chamada “Scandza”, possivelmente a Escandinávia dos dias modernos. Não se sabe quando eles teriam vivido lá.
“Agora da ilha de Scandza, como de uma colmeia de raças ou um ventre de nações, dizem que os godos surgiram há muito tempo sob seu rei, Berig pelo nome ”, escreveu ele (tradução de Charles Mierow). Após uma série de migrações para o sul, eles viviam perto das fronteiras do Império Romano.
Nosso conhecimento sobre os godos antes de interagirem extensivamente com os romanos é limitado. Eles tinham uma espécie de linguagem escrita que fazia uso de inscrições rúnicas; no entanto, poucas dessas inscrições foram encontradas e as que sobreviveram são bastante curtas. Sua religião pode ter feito uso de xamãs, pessoas que poderiam ter agido como intermediários entre eles e os deuses.
Godos vs. Gregos
Durante o terceiro século, os godos lançaram uma série de invasões contra a Grécia controlada pelos romanos. Fragmentos de um texto discutindo esses ataques, escrito por um escritor de Atenas do século III chamado Dexippus, foram recentemente descobertos na Biblioteca Nacional da Áustria e detalhados no Journal of Roman Studies.
Dexipo disse que o imperador romano Décio (que reinou de 249 a 251 d.C.) liderou o exército romano contra os godos, mas sofreu uma série de derrotas, perdendo tanto território quanto homens. O texto também fala de uma batalha entre godos e gregos que ocorreu na passagem das Termópilas. O exército gótico estava tentando chegar a Atenas, enquanto uma força grega havia fortificado a passagem na tentativa de detê-los. O fragmento termina antes que o resultado da batalha seja conhecido.
Contato com Roma
Também no século III d.C., os godos lançaram uma série de ataques ao Império Romano. “O primeiro ataque conhecido ocorreu em 238, quando os godos saquearam a cidade de Histria na foz do rio Danúbio. Uma série de incursões terrestres muito mais substanciais se seguiram uma década depois”, escreve Peter Heather, professor do Kings College London, em seu livro “The Goths” (Blackwell Publishers, 1996).
Ele observa que em 268 d.C., uma enorme expedição de godos, junto com outros grupos também chamados de bárbaros, invadiu o mar Egeu, causando estragos. Eles atacaram vários assentamentos, incluindo Éfeso (uma cidade na Anatólia habitada por gregos), onde destruíram um templo dedicado à deusa Diana.
“A destruição causada por esse ataque combinado em terra e mar foi severa e gerou uma resposta romana feroz. Não apenas os grupos individuais foram derrotados, mas nenhum ataque importante jamais irrompeu novamente nos Dardanelos”, escreve Heather.
O relacionamento tumultuoso dos godos “com Roma continuaria no século IV. Enquanto os godos serviam como soldados romanos e o comércio acontecia através do rio Danúbio, havia muitos conflitos.
Heather observa que um grupo gótico chamado Tervingi interveio na política imperial romana, apoiando dois pretendentes malsucedidos ao imperador. Em 321 d.C., eles apoiaram Licínio contra Constantino e, em 365 d.C., apoiaram Procópio contra Valente.Em ambos os casos, o tiro saiu pela culatra, com Constantino e Valente lançando ataques contra os Tervingi após se tornarem imperadores.
À medida que o contato com Roma se intensificava, uma forma de cristianismo conhecida como arianismo se espalhou entre os godos.
“Na década de 340 , o bispo gótico ariano Ulfilas ou Wulfila (falecido em 383) traduziu a Bíblia para o idioma gótico em uma escrita baseada principalmente no alfabeto grego uncial e disse ter sido inventado por Ulfilas para esse fim “, escreve Robin Sowerby, um conferencista em a Universidade de Stirling, em um artigo no livro “A New Companion to the Gothic” (Wiley, 2012).
Com o tempo, os godos adotariam a forma católica de cristianismo que veio a ser usada em Roma.
Expulso pelos Hunos
Esta relação complicada seria alterada para sempre com o aparecimento ao norte do Danúbio de um novo grupo, chamado Hunos, por volta de 375 DC. Os Hunos empurraram o Godos em território romano.
Os Godos, buscando refúgio entre os romanos, foram maltratados. Sem comida, eles foram forçados a vender seus filhos como escravos a preços humilhantes.
“Quando os bárbaros depois de sua travessia foram assediados por falta de comida, aqueles generais mais odiosos planejaram um tráfico vergonhoso; eles trocaram todos os cães que seus a insaciabilidade podia se acumular de longe para um escravo cada, e entre eles foram levados também filhos dos chefes ”, escreveu Ammianus Marcellinus, que viveu no século IV dC (tradução de John C. Rolfe).
O imperador Valente, que governou a metade oriental do Império Romano, liderou pessoalmente um exército para Balcãs para subjugar os godos. Em 9 de agosto de 378 dC, este exército enfrentou os godos perto da cidade de Adrianópolis (também chamada de Adrianópolis). Valente subestimou o tamanho da força gótica. Como resultado, seu exército foi flanqueado pelos godos e aniquilado, o próprio imperador matou.
“Justamente quando escureceu, o imperador b eer no meio de uma multidão de soldados comuns, como se acreditava – pois ninguém disse que o tinha visto ou estado perto dele – foi mortalmente ferido por uma flecha e, pouco depois, morreu, embora seu corpo nunca tenha sido encontrado , ”Escreveu Marcellinus (tradução por CD Yonge).
O sucessor de Valente, Teodósio, fez um tratado com os godos que durou até sua morte em 395 DC.
Ascensão de Alarico
Após 395 DC, o tratado com Roma desmoronou. Um líder gótico chamado Alarico ascendeu à preeminência, liderando os godos na batalha contra as metades oriental e ocidental do Império Romano.
O conflito que se seguiu foi complicado. Alaric queria fazer um acordo que resultaria nos godos sob seu comando recebendo boas terras agrícolas e recompensas monetárias. Ele empreendeu ataques para pressionar os romanos.
Heather escreve que por volta de 403 DC, Alaric estava nos Bálcãs, encontrando-se um “fora da lei rejeitado por ambas as metades do Império.” Uma tentativa de Alaric de mover os godos para a Itália falhou, e houve um massacre dos habitantes góticos de Constantinopla em 400 DC.
A sorte mudou para Alaric e os godos quando o Império Romano Ocidental começou a desmoronar. O imperador Honório enfrentou uma rebelião entre seu exército e um usurpador chamado Constantino III acumulou território na Grã-Bretanha e na Gália. Na esteira desses problemas, Honório fez com que seu general, Estilicho, fosse morto em 408 d.C.
Vendo a fraqueza, Alarico avançou para a Itália uma segunda vez, encontrando apoio dos ex-apoiadores de Estilicho, bem como de escravos fugitivos. Ele estava acampado fora de Roma em 410 d.C., usando a cidade como moeda de troca em um esforço para obter concessões do governo de Honório. Após uma série de negociações malsucedidas, Alaric saqueou a cidade em 24 de agosto.
Dois reinos
Alaric morreria poucos meses após o saque de Roma. Durante o século V d.C., com o enfraquecimento do Império Romano Ocidental, dois reinos góticos surgiram. Na Península Ibérica e no sudoeste da Gália, o Reino Visigótico seria formado. Este reino duraria até 711 d.C., quando foi invadido pelos mouros. No entanto, eles lentamente recuperaram o controle e em 718 fundaram o Reino das Astúrias, que evoluiu para os modernos Portugal e Espanha.
Enquanto isso, na Itália, o Reino dos ostrogodos passou a existir no final do século V DC , eventualmente dominando toda a península. Este reino teve vida curta, caindo para Justiniano I, imperador do Império Bizantino, em poucas décadas.
À medida que a Europa entrava na Idade das Trevas, o Reino Visigótico ajudaria a preservar muitos aspectos da cultura romana, incluindo sua religião e tradições artísticas. É irônico que os godos, as pessoas que saquearam Roma em d.C.410, ajudou a levar a cultura romana para o futuro.