Cistos sintomáticos de retenção de muco do seio maxilar: relato de caso

Artigo de relato de caso

Cistos de retenção de muco sintomáticos do seio maxilar: relato de caso

Eduardo Sanches GonçalesI; Andréia Guedes Barreto GonçalesI; Emanuelle da Silva LimaII; Julierme Ferreira RochaII; José Wilson NoletoII; Eduardo Hochuli-VieiraIII

I Departamento de Estomatologia da Faculdade de Odontologia de Bauru da Universidade de São Paulo – Bauru – SP – Brasil
II Departamento de Cirurgia Bucomaxilofacial da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Campina Grande, Campus Patos – Campina Grande – PB – Brasil
III Departamento de Cirurgia Bucomaxilofacial da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – Araraquara – SP – Brasil

Correspondência

RESUMO

O cisto de retenção de muco do seio maxilar é uma lesão benigna que ocorre no interior do seio maxilar por obstrução ductal. Na maioria dos casos, é assintomático e descoberto em exames radiográficos de rotina. No entanto, em alguns casos, esse cisto pode se tornar grande e causar sintomas como parestesia, sensibilidade à palpação, cefaleia crônica, obstrução nasal e tontura. O tratamento conservador é realizado na maioria dos casos. Os cistos de retenção sintomáticos são tratados por enucleação ou curetagem. Objetivo e relato de caso: Este estudo teve como objetivo relatar um caso clínico de cisto de retenção mucosa sintomático descoberto acidentalmente em paciente tratado por expansão rápida da maxila cirurgicamente assistida. Conclusão: A curetagem do cisto permitiu a regressão dos sintomas e aos 12 meses de pós-operatório o paciente está sem sintomas e sem sinais de recorrência da lesão.

Palavras-chave: cistos; seio maxilar; mucocele.

Introdução

O cisto de retenção de muco do seio maxilar (MRCMS) é uma lesão benigna e autolimitada, resultante do vazamento de muco dentro da mucosa do seio por via ductal obstrução 4, 12. Foi sugerido que MRCMS é de origem não odontogênica, uma vez que também pode ocorrer em pacientes dentados e edêntulos. No entanto, Veltrini et al. 14 enfatizaram que a doença periapical e periodontal associada aos molares superiores pode ser um importante fator etiológico para sinusite e MRCMS.

Como a patogênese do MRCMS parece ser baseada em hipóteses, muitas denominações são atribuídas a essa lesão: pseudocisto, cisto de retenção do seio maxilar, cisto seroso, cisto mucoso, cisto benigno da mucosa maxilar ou mucocele. Pseudocisto é aquele que não tem revestimento epitelial mostrando tecido conjuntivo fibroso ao redor do conteúdo cístico. Porém, o MRCMS apresenta revestimento epitelial, o que parece indicar que este é o nome correto 7, 12.

O MRCMS é comumente encontrado em exames radiográficos realizados por outros motivos. A lesão aparece nas radiografias panorâmicas e periapicais dos dentes posteriores superiores como uma radiopacidade homogênea, contornada, em forma de cúpula, hemisférica ou circular, de dimensões variáveis, mais frequentemente localizada no assoalho do seio maxilar e preservando as paredes do seio. Nos casos em que o cisto de retenção preenche completamente o seio maxilar, a interpretação radiográfica torna-se difícil e o embaçamento completo pode ser interpretado como sinusite maxilar 7, 8, 10.

Nenhum tratamento deve ser instituído para MRCMS, especialmente quando a lesão é pequena e assintomática. Sugere-se apenas acompanhamento radiográfico, pois a maioria não evolui e alguns regridem espontaneamente. Em lesões maiores ou sintomáticas, o tratamento deve ser realizado por enucleação ou curetagem 2, 3, 4, 5, 14. É proposto neste trabalho apresentar um caso clínico de MRCMS sintomático descoberto acidentalmente durante a expansão maxilar cirurgicamente assistida.

Relato do caso

Paciente, sexo masculino, leucoderma, 33 anos, portador de deficiência transversa da maxila, foi encaminhado para tratamento por indicação ortodôntica para realização de expansão maxilar cirurgicamente assistida (MESMA).

Na história clínica constatou-se que o paciente apresentava bom estado geral de saúde, referindo apenas dificuldade para respirar, motivo pelo qual procurou o tratamento ortodôntico recomendado pelo otorrinolaringologista.

O exame clínico revelou atresia maxilar e mordida cruzada posterior bilateral (figura 1).

A radiografia panorâmica apresentou discreta opacificação difusa do seio maxilar direito (figura 2).

Durante o SAME, realizado de acordo com a técnica sugerida por Betts et al. 1, e na osteotomia realizada no processo zigomático da maxila, observou-se conteúdo amarelado (figura 3) e removido por curetagem.

Tal conteúdo, com dimensões aproximadas de 6,0 x 5,5 x 2,5 cm, apresentou consistência gelatinosa e foi enviado para exame histopatológico, sendo diagnosticado por cistos mucosos de seio maxilar.Após a retirada da lesão, a cavidade do seio estava desobstruída e limpa (figura 4), o que permitiu os cuidados de rotina com a ferida operatória, finalizando com a sutura. No pós-operatório imediato, o paciente relatou melhora significativa em sua respiração.

Microscopicamente, uma cavidade cística virtual foi observada, revestido por epitélio pseudoestratificado cilíndrico ciliado com camada subjacente de tecido conjuntivo frouxo, rico em delicados vasos sanguíneos. No meio, focos de infiltrado mononuclear intenso foram observados (figura 5).

Após doze meses de pós-operatório, a radiografia panorâmica mostrou as estruturas com aspectos normais (figura 6).

Discussão

O MRCMS não é um fenômeno do seio maxilar e sua patogênese não é totalmente conhecida. No entanto, a infecção prévia da mucosa sinusal parece ser importante na patogênese desse cisto, principalmente a infecção odontogênica. Uma inflamação intensa ao redor do ducto do revestimento das glândulas mucosas dos seios da face pode alterar sua integridade e causar obstrução. Assim, infecções respiratórias, como a sinusite maxilar, favorecem o desenvolvimento de MRCMS 4, 7, 12.

Embora a maioria dos MRCMS sejam assintomáticos e descobertos por exames radiográficos para outros fins 6, o MRCMS pode apresentar sinais e sintomas eventuais , como enxaqueca, congestão nasal, tontura, parestesia, drenagem de líquido amarelo, alergia respiratória, sensibilidade à palpação na parede anterior do seio maxilar, levando o indivíduo a buscar tratamento 5. Parece claro que esses sintomas são preferencialmente percebidos pelos indivíduos com cistos maiores, como no caso relatado, mas queixando-se apenas de dificuldade respiratória.

Radiograficamente, os cistos de retenção menores apresentam-se em forma de cúpula ou arredondados, mas ocasionalmente preenchem completamente a cavidade sinusal, dificultando o seu diagnóstico radiográfico, por gerar opacificação difusa fina da imagem do seio maxilar 3, 10, 13. No caso relatado, a lesão ocupava quase toda a extensão do seio maxilar direito, que apresentava opacificação difusa não sugestiva de cisto, mas compatível com sinusite maxilar crônica. A tomografia computadorizada é indicada para os casos em que o diagnóstico por meio de exames convencionais é limitado 7, 8, 11, 13.

O diagnóstico diferencial de MRCMS deve ser feito com outras lesões que produzem opacificação dos seios da face, como o cisto radicular apical , tumor odontogênico, ceratocístico, cisto dentígero, mesmo considerando que essas lesões podem causar sinais e sintomas intraorais, com alteração do processo alveolar. Nesta região, uma variedade de cânceres podem aparecer; o carcinoma epidermóide parece ser o mais comum e não deve ser confundido com o MRCMS 5, 14. O cisto cirúrgico ciliar maxilar (MCCS) decorre da proliferação do epitélio sinusal preso na ferida, durante procedimentos invasivos do seio maxilar. É também chamada de mucocele secundária e é uma complicação tardia de sinusectomias e cirurgias ortognáticas maxilares.

Pequenas lesões podem ter regressão espontânea 2; entretanto, o cisto mais sintomático e deve ser retirado por tratamento cirúrgico, preferencialmente por curetagem ou sinusectomia maxilar 3, 4, 14. Nesse caso, a cirurgia do seio foi oportuna, aproveitando o MESMO procedimento. O comportamento da lesão é eminentemente benigno, permitindo sua remoção satisfatória, mesmo com acesso limitado, ou seja, a janela óssea no processo zigomático maxilar.

A melhora imediata da respiração do paciente corrobora dados que enfatizam a necessidade do tratamento dos cistos de retenção mucosa sintomáticos do seio maxilar. Obviamente, essa melhora não foi decorrente do procedimento de expansão maxilar, pois foi imediato, embora Ribeiro Júnior et al. 9 tenham afirmado que o MESMO pode resultar em melhora do padrão respiratório.

Conclusão

O diagnóstico clínico e radiográfico correto de MRCMS é obrigatório nos casos sintomáticos, pois parece ser decisivo para a indicação do tratamento. O monitoramento clínico e radiográfico dos casos de MRCMS é, no entanto, o procedimento mais comum, pois lesões pequenas e assintomáticas são mais prevalentes e não requerem tratamento.

2. Bhattacharyya N. Os cistos de retenção do seio maxilar refletem fenômenos obstrutivos do seio nasal? Arch Otolaryngol Head Neck Surg. 2000; 126 (11): 1369-71.

6. Mardinger O, Manor I, Mijiritsky E, Hirshberg A. Aumento do seio maxilar na presença de um Pseudocisto intral: uma abordagem clínica. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod. 2007; 103: 180-4.

7. Parks ET. Tomografia computadorizada de feixe cônico para cavidade nasal e seios paranasais. Dent Clin North Am. 2014; 58 (3): 627-51.

8. Rege ICC, Sousa TO, Leles CR, Mendonça EF.Ocorrência de anormalidades do seio maxilar detectadas por TC de feixe cônico em pacientes assintomáticos. BMC Oral Health. 2012; 12 (30): 1-7.

9. Ribeiro Júnior PD, Gonçales ES, Souza PCU, Nary Filho H, Luz JGC. Avaliação clínica dos procedimentos de expansão cirurgicamente assistida da maxila (ECAM). R Dental Press Ortodon Ortop Facial. 2006; 11 (1): 44-59.

10. Rodrigues CD, Freire GF, Silva LB, Fonseca da Silveira MM, Estrela C. Prevalência e fatores de risco de cistos de retenção de muco em uma população brasileira. Dentomaxillofac Radiol. 2009; 38 (7): 480-3.

11. Rodrigues CD, Silveira MF, Alencar AHG, Silva MAGS, Mendonça EF, Estrela C. Imagens tridimensionais contribuem para o diagnóstico de cisto de retenção de muco em seio maxilar. Med Oral Patol Oral Cir Bucal. 2013; 18 (1): 151-7.

12. Soikkonen K, Ainamo A. Radiographic maxillary sinus achados em idosos. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod. 1995; 80 (4): 487-9.

13. Vallo J, Taipale LS, Huumonen S, Soikkonen K, Norblad A. Prevalência de anormalidades da mucosa do seio maxilar e sua relação com a doença dentária em radiografia panorâmica: resultados do Health 2000 Hearth Examination Survery. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod. 2010; 109 (3): 80-7.

14. Veltrini V, Ferreira O, Tostes D. Cistos mucosos do seio maxilar: uma revisão da literatura. Med Oral. 2001; 6 (3): 185-91.

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *